Até 1994, a economia brasileira apresentou índices bastante elevados de inflação, mas esses índices nunca foram integralmente repassados aos salários, havendo forte concentração de renda. Por exemplo, se a inflação era de 50%, os salários eram reajustados em 40%, reduzindo o poder aquisitivo dos trabalhadores e aumentando a margem de lucro dos empresários. Mesmo que o índice de reajuste dos salários fosse de 50%, continuaria havendo transferência ou concentração de renda porque, em 1994, 80% dos trabalhadores brasileiros recebiam até três salários mínimos mensais (71,6% em 2008), e a maioria não tinha como investir e proteger seu salário no mercado financeiro para manter o poder de compra do seu dinheiro.
Há várias entidades que divulgam índices de inflação, como a Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas da Universidade de São Paulo (Fipe/USP), o IBGE e a FGV, entre outras. Cada uma adota uma metodologia de cálculo própria. Por exemplo, pode-se medir a inflação nos distribuidores atacadistas ou no varejo para as diferentes classes de renda mensal, e até mesmo para as diferentes regiões do país.
O índice de inflação é composto por muitas variáveis – alimentação, moradia, transporte, vestuário, educação, saúde, lazer, serviços públicos; portanto, varia para as diferentes faixas de renda. Por exemplo, se o preço dos alimentos subir, o índice será maior para a população de baixa renda, pois a alimentação tem um peso maior em suas despesas mensais. Por outro lado, se subir o preço das passagens aéreas e dos automóveis, as classes mais abastadas serão mais atingidas.
Vamos comparar o efeito da inflação para duas pessoas: uma com salário mensal de R$ 600 e outra de R$ 6 mil. Para simplificar a comparação e facilitar o entendimento, vamos considerar apenas o efeito do item alimentação nessas duas faixas de renda. A pessoa que ganha R$ 600 gasta, aproximadamente, R$ 200, ou 33,3% do seu salário, com alimentação. Quem ganha R$ 6 mil pode gastar, por exemplo, quatro vezes mais (R$ 800), e, mesmo assim, despenderia apenas 13,3% da sua renda mensal. Se os gastos com alimentação sofrerem um aumento de 50%, o índice de inflação será de 16,66% para quem ganha R$ 600 (ou seja, R$ 100 a mais do que gastava: R$ 100/600 x 100 = =16,66%), mas apenas de 6,66% para quem ganha R$ 6 mil (R$ 400/6 000 x 100 = 6,66%).
Como o governo divulgava um único índice de inflação, válido para todas as faixas de renda em todo o território nacional, saía perdendo quem ganhava menos. Suponha que o governo divulgasse um índice médio de 11,66%, o qual fosse utilizado para reajuste salarial. O que aconteceria? O trabalhador mais pobre teve uma inflação de 16,66% e seu salário foi reajustado em 11,66% — perdeu poder aquisitivo, ficou mais pobre. Já quem ganha mais teve uma inflação de 6,66% e seu salário também foi reajustado em 11,66% — aumentou seu poder aquisitivo. Imagine isso acontecendo todos os meses durante vários anos seguidos e perceba o desastre provocado na distribuição da renda nacional entre as diferentes faixas de renda.
Fonte: Geografia Geral e do Brasil
Fonte: Geografia Geral e do Brasil
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